segunda-feira, 8 de setembro de 2008

À ESPERA DO PRIMEIRO VERBO

Certa noite, ela foi dormir com a sensação insólita daquele olhar.
O papel a olhar espantado pra dentro dela, querendo colher imagem que valesse à alma, querendo caçar pensamento que virasse paisagem.
A jovem adolescente que ainda colocava as ânsias da infância pra adormecer, trazia consigo a sina de se tornar uma escritora.
Aturdida, ela pôs-se a mastigar palavras antes que elas virassem som e se jogassem –vozes suicidas – pela boca.
Ela engoliu as palavras com medo que fugissem, pelos dedos, de sua Sina de engendrar sonhos no papel.
O papel olhou pra ela, luzindo.
Pobre do papel ficou branco e ávido, à espera do primeiro Verbo.